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Entrevista | Colatto quer assentamentos independentes do MST e diz que entendeu recado das urnas em 2018

Por: Marcos Schettini
17/01/2020 16:56

Fortíssimo e reconhecido nome do agronegócio no Congresso Nacional, Valdir Colatto tem 30 anos de dedicação plena na representatividade política do setor. Os 71.473 votos recebidos em 2018 não foram suficientes para reeleição, mas o ex-deputado federal diz que recebeu com humildade o recado das urnas. Posicionado como importante liderança do MDB em Santa Catarina, lamenta não ter sido escutado na composição da chapa que tirou a chance da sigla de emplacar uma outra vaga no Senado.

Em entrevista exclusiva ao jornalista Marcos Schettini, o atual diretor do Serviço Florestal Brasileiro parabenizou o trabalho da ministra Tereza Cristina [Agricultura] e afirmou que está empenhado na regularização ambiental das propriedades rurais. Ainda, criticou o chamado “trabalho ideológico” de ONGs internacionais que, segundo ele, jogam para culpar a agricultura como destruidora do meio ambiente. Também, falou de reforma agrária e garantiu que o Governo Bolsonaro quer tornar os assentamentos independentes do MST. Confira:

Marcos Schettini: O senhor lutou firme contra o horário de verão. O presidente Jair Bolsonaro em uma canetada derrubou. O que mudou?

Valdir Colatto: Com certeza, a saúde das pessoas, comprovadamente pela classe médica.

Também a comprovação, que já tinha feito junto ao Congresso e à sociedade, de que não havia economia de energia. Lutei 12 anos e com isso conseguimos o respeito ao biorritmo natural das pessoas, obrigando-as acordar uma hora antes por um decreto do presidente da República. O bem-estar das pessoas que nos procuravam pedindo para acabar com o horário de verão. Por incrível que pareça, entre os mais de 100 projetos que apresentei na Câmara dos Deputados, esse foi o de maior repercussão positiva junto à população.

Schettini: Várias lideranças de outros partidos reconhecem sua falta no Congresso Nacional como voz firme dos agricultores. O que deu errado?

Colatto: Sem dúvida, a vontade da sociedade pela mudança da política errada. Assim não distinguiu o bom do mau político e generalizou, com isso acertou, mas também criou vítimas e praticou injustiças. Como um dos 14 filhos de um pequeno agricultor que criou todos em 4 hectares de terras no cabo da enxada, passei por todas as dificuldades de um homem da roça. Mas fui um privilegiado que conseguiu se formar em Agronomia em uma universidade pública, então pensei: “alguém pagou meu estudo preciso retribuir de alguma forma”. Cedo, vi que os agricultores tinham muitos problemas e estes estavam fora da porteira. Estimulado por amigos, vi na política o caminho mais curto para ser a voz deles, então por convocação e missão, eu dediquei minha vida em defesa daqueles que produzem a comida que chega em nossas mesas todos os dias. Há pessoas mais importantes? Penso que a agricultura perdeu um grande espaço na política brasileira, mas outros surgirão, pois ninguém é insubstituível. Agradeço a todos que de alguma forma reconheceram o nosso trabalho como deputado federal.


Schettini: O senhor tem um posto importante no Governo Federal. O que SC ganha com isso?

Colatto: A vida, às vezes, nos prega algumas peças. Lutei 10 anos para elaborar e aprovar o Código Florestal Catarinense e Brasileiro como deputado federal. A história quis que eu não me elegesse na última eleição e a ministra da Agricultura me convidasse para ser diretor do Serviço Florestal Brasileiro, com a missão de implantar a Lei 12651/2012, o Código Florestal Brasileiro, que tanto lutamos para aprovar. Nossa missão é cuidar de 63% do Brasil que são nossas florestas e implantar, analisar e buscar a regularização ambiental em 6,4 milhões de propriedades rurais em 543 milhões de hectares. Especificamente em Santa Catarina, em torno de 340 mil propriedades com 90% abaixo de 15 hectares, que se não mudássemos a lei, seriam inviabilizadas. Nosso grande desafio é harmonizar a atividade agrícola sustentável e eliminar o conflito ideológico criado por ONGs internacionais de que a agricultura é a destruidora do meio ambiente.

Schettini: O senhor é um militante do MDB, mas olha para o Aliança Pelo Brasil em 2022. Vai sair do partido?

Colatto: A hora é de ouvir e analisar com paciência o quadro político que vivemos. Entendo que as eleições municipais será um balizador referencial para qualquer decisão política futura a nível nacional.

Schettini: As ONGs dizem que o ministro do Meio Ambiente é um irresponsável e inconsequente. Por quê?

Colatto: Porque o ministro Ricardo Sales tem coragem de enfrentá-los, cortou as verbas públicas e defende tecnicamente as inverdades que espalham para a população desinformada. Mas o verdadeiro motivo é a guerra econômica com outros países concorrentes do agro brasileiro, que com apenas 8% do território plantado é o primeiro produtor proteínas e cereais do mundo.


Schettini: A ministra Tereza Cristina é um nome respeitado no país e tem dado passos que agradam o agronegócio. O que precisa ser feito?

Colatto: A ministra Teresa Cristina é uma pessoa preparada, com uma capacidade de trabalho incomparável e está colocando a agricultura nos trilhos. Com habilidade, organiza, planeja e desburocratiza o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e coloca o Brasil como o maior produtor de alimentos no mundo. Tem o desafio de fazer com que o corporativismo funcional entenda e não atrapalhe as mudanças de governo e busque a diminuição do custo Brasil, principalmente, melhorando a logística dos transportes da produção. A agricultura continuará a ser o motor da economia com o comando da ministra Cristina e seu qualificado time.


Ministra Tereza Cristina [Agricultura] acompanhada do diretor do Serviço Florestal Brasileiro, Valdir Colatto (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

Schettini: A reforma agrária tem qual direção no Governo Bolsonaro?

Colatto: O Brasil tem mais de 950 assentamentos de reforma agrária, com 900 mil famílias e 90 milhões de hectares, isto é 1,5 vezes mais de terra de tudo que se planta no país. Após 40 anos do início da reforma agrária, somente 5% dos assentados receberam o título definitivo. O Governo publicou a MP 910/2019 que irá regularizar e titular os assentados, tornando-os agricultores independentes do MST e proprietários definitivos de suas áreas. Terão assistência técnica e acesso a políticas públicas.

Schettini: O MDB tem que sair vivo das eleições municipais para pensar 2022. O que deve ser feito?

Colatto: O MDB tem uma história que o Brasil reconhece como entidade política, mas também como eu, repudia comportamentos e ações de membros dos seus quadros que usaram o partido para interesses pessoais e escusos. O meu MDB é do Ulysses Guimarães, Pedro Ivo Campos, Luiz Henrique e tantos homens probos e corretos que fizeram história. Não tenho dúvida de que pagamos e vamos ainda pagar um preço alto pelos desmandos de nossos ex-dirigentes nacionais. Agora, o momento é de renovação e o recado está dado pela sociedade que quer mudanças. É a hora de novas lideranças, confiáveis, com perfil de bom administrador e longe de compromissos partidários passados.

Schettini: Agora o produtor rural tem livre acesso às armas para defender a família e a propriedade. Ele está preparado para isso?

Colatto: Com certeza, quando o estado não consegue garantir a segurança do cidadão, é seu direito constitucional defender sua vida, sua família e sua propriedade. Se é difícil a segurança para quem mora na cidade, com a polícia em cada esquina, imaginemos na área rural, onde não há qualquer estrutura de segurança pública. Já temos muitas informações de que muitos delitos foram evitados pela posse de armas nas propriedades rurais, por isso sempre apoiamos.


Schettini: Onde o MDB errou em 2018? Por que a vaga deixada por LHS não foi ocupada?

Colatto: O MDB errou porque não ouviu as vozes da rua, fazendo a política velha de coligações partidárias abominada pela população, quando desenhava um loteamento espúrio de cargos entre os partidos políticos. Lutei dentro do partido por candidatura própria em chapa pura ao governo, com uma vaga ao Senado para Jorginho Melo e outra para o MDB, cujos nomes colocados na convenção, que eram o meu ou do Paulo Afonso. Saímos da convenção no sábado com a candidatura do Mauro Mariani, abrindo a vice para Carmen Zanotto e Jorginho ao Senado, na outra vaga eu ou Paulo Afonso, que a Executiva foi autorizada a escolher na segunda-feira. No domingo, a cúpula do partido, quando não fui convidado, acertou com o PSDB, compondo a chapa com Napoleão de vice e Paulo Bauer ao Senado. Nos restou a candidatura a deputado federal e Paulo Afonso não se candidatou a nada. O recado veio nas urnas, tal qual previ numa carta aberta que enviei ao partido e filiados do MDB, quando coloquei meu nome à disposição para concorrer ao Senado. Espero que os erros das eleições passadas sejam um bom aprendizado para as eleições municipais e outras que virão.

Schettini: Qual é seu destino político?

Colatto: Nunca tinha pensado em ser político, até acho que não levo jeito para a demagogia, pois nunca deixei de ser eu mesmo. Sou um animal político, fiz uma história, amigos, sofri incompreensões, mas sou grato aos meus eleitores que, mesmo com minhas fragilidades, confiaram em mim em tantas eleições. Estou convicto que fiz o melhor possível, não abrindo mão de meus princípios e absoluta retidão. Nas últimas eleições recebi com humildade o recado das urnas, agora é esperar. Dizem que o tempo é o senhor da razão e a vida segue.


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